domingo, 4 de janeiro de 2015

Capela Santo Antônio da antiga “Colônia Tavares de Macedo” (1942): O silenciamento de um patrimônio

* Luiz Maurício de Abreu Arruda

Fonte: Souza-Araújo e Acervo Pessoal [1]

A Colônia de Iguá foi inaugurada oficialmente em 20 de agosto 1938, após acalorados debates políticos, que atingiram inclusive a Assembleia Federal. O movimento de resistência, que contou com a participação de grande parte da elite itaboraiense, não se conformava com a instalação de uma “cidade de leprosos” na região. Entretanto, apesar de toda a articulação política, o movimento acabou por sair derrotado. 

Agora, será que esse movimento de resistência teria deixado de alguma forma, marcas presentes até os diais atuais? Por que a capela registrada nas imagens acima, não aparece na historiografia e documentos oficiais produzidos pelas Instituições Municipais? [2]

O movimento para construção do primeiro templo Católico da Colônia de Iguá [3] ocorreu em 1939, através de grande mobilização a nível estadual pela Sociedade Petropolitana de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra. O primeiro passo foi a organização de um evento beneficente, para iniciar a campanha, que em seguida estimularia outras semelhantes a esta. Através do patrocínio de Darcy Vargas e Alice do Amaral Peixoto,teve início oficialmente a campanha através de um grandioso baile em 24 de março de 1939, ocorrido no Tennis Club de Petrópolis. [4]

A pedra fundamental foi lançada em 14 de julho de 1940, sob as bênçãos do Bispo Diocesano do Rio de Janeiro, Dom José Pereira Alves; além de representantes do poder público e federal; Dr. Lauro Mota, Diretor da Colônia Tavares de Macedo; a madrinha da Capela, Alice do Amaral Peixoto; além de políticos locais, onde discursou Januario Cáffaro representando a população de Itaboraí. [5]

A Capela apresenta belos traços arquitetônicos, que estão sendo preservados perfeitamente até os dias atuais, como evidenciados pelas fotografias. Em dezembro de 1942, ocorreu sua inauguração, tendo a presença de Eunice Weaver, presidente das Federações de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra; o Drs. Ruy Albuquerque, Diretor de Educação e Saúde do Estado do RJ; e Marcio Franco Alves, Prefeito de Petrópolis, além de elevado número de pessoas dos quadros políticos de Itaboraí. [6]

A intenção não é elevar a Capela Santo Antônio a um patrimônio cultural [7] do município em detrimento de outros, até porque dentro do próprio espaço que compreende a antiga Colônia, também se ergueram templos para o culto e prática de diferentes segmentos religiosos. O patrimônio em questão foi a primeira a ser erguida nesta comunidade e segundo nossa avaliação, deveria ser tombada ou contemplada por uma política pública, por tratar-se de um vestígio privilegiado da história do município e da hanseníase no Brasil.

Mais do que um elemento arquitetônico, a antiga Colônia Tavares de Macedo é um elemento social e como tal, caracteriza uma época e uma sociedade, que teoricamente não deveria ser “silenciada” desta maneira. Trata-se de um importante capítulo da história fluminense, que continua a ser “esquecida” pelo poder estadual e principalmente pelas autoridades locais.  
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* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Professor de História.
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[1] A fotografia da esquerda foi publicada por Souza-Araújo no ano de inauguração da Capela Santo Antônio e a da direita é a mesma Capela nos dias atuais. Fonte: SOUZA-ARAÚJO, Heráclides Cesár de. História da Lepra no Brasil. Período Republicano (1890-1952) - Volume II, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1956. p.211 & Fotografia tirada por Luiz Maurício de Abreu Arruda em 12/08/2014.
[2] Um exemplo desse“silenciamento”, identificamos no Caderno Itadados, publicado em 2006, pela Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação  de Itaboraí. Esse documento público, buscou estabelecer um conjunto de indicadores sobre as diversas áreas sociais do Município, a fim de orientar melhor determinadas políticas públicas. Com 108 páginas, são apresentados aspectos históricos, sociais, culturais e econômicos do município. Contudo, em momento algum, é feito qualquer menção a existência no município da referida Capela e muito menos da Instituição “Colônia de Iguá ou Tavares de Macedo”, hoje HETM. In: Caderno Itadados. Secretaria Municipal de Planejamento e Controle, PMI, 2006. 
[3] Originalmente nomeada de Colônia de Iguá em 1936, sendo renomeada em 1940 para Colônia Tavares de Macedo. 
[4] Jornal Gazeta de Notícias. Ano 64, nº 75, 28 de março de 1939, Rio de Janeiro.
[5]Revista de Combate à Lepra, ano V, março de 1939, Rio de Janeiro. p.189. 
[6] Revista de Combate à Lepra, ano VIII, junho de 1943, Rio de Janeiro. p.110.[7] A noção de “patrimônio cultural” sofreu ampliação, principalmente graças à contribuição decisiva da antropologia, que, na sua perspectiva relativizadora, integra os aportes de grupos e segmentos sociais que se encontravam à margem da história e da cultura dominante.

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