sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entre lutas e embates: a instalação da “força e luz” em Itaboraí

* Luiz Maurício de Abreu Arruda 
Fonte: Câmara Legislativa Municipal

A imagem representa a placa comemorativa da inauguração do serviço de “luz e força” (energia elétrica) em Itaboraí, localizada na Câmara Legislativa Municipal.
O município de Itaboraí só pôde contar com fornecimento de “luz e força” em 1949. Antes desse período, a cidade possuía apenas uma pequena usina que supria precariamente o serviço de iluminação pública. Apesar das queixas, a Prefeitura se eximia, alegando que o investimento para solucionar a questão era muito alto e extrapolava os limites arrecadados pelas rendas municipais. Eram frequentes as quedas de energia, como o episódio ocorrido em 1939, quando a usina elétrica entrou em colapso, ficando desativada por vários meses.[1]
Não obstante os esforços da administração municipal, que em 18 de abril de 1940, abriu um crédito municipal de 50:000$000 (cinquenta contos de réis), destinado à compra de novo maquinário para reforma do serviço de iluminação pública do Centro da Cidade, continuava-se a manter uma estrutura precária que atendia uma pequena parcela da população do município.[2]  
O prefeito buscava resolver o impasse, marcando audiências com o Interventor Federal Ernani do Amaral Peixoto, a fim de resolver o problema, pois a carência de energia elétrica era considerada um dos entraves para o “progresso” do município. Em uma dessas reuniões ocorridas em janeiro de 1940, o Prefeito de Itaboraí, Vicente Pereira da Fonseca, esteve no Palácio do Ingá para pedir a solução da questão, quando recebeu a promessa de que seu pedido seria atendido. Entretanto, apesar da euforia local, em nada resultou esse alarde, pois até o fim do período do Estado Novo em 1945, enquanto Amaral Peixoto esteve à frente da Interventoria do Estado do Rio de Janeiro, o fornecimento de energia elétrica para o município não havia sido resolvido. [3]
O imbróglio só foi solucionado a partir do decreto lei nº 21.935 de 12 de outubro de 1946, assinado pelo Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, que autorizava “(...) estender energia elétrica ao Leprosário de Iguá e à cidade de Itaboraí”. [4]        
Somente depois de três anos deste decreto, Itaboraí pode contar com uma infraestrutura elétrica a partir da construção de uma subestação de energia no 3º Distrito de Itambi, que recebeu os cabos da Cia Brasileira Energia Elétrica, alimentando em seguida as principais localidades do município. A subestação contava com um conjunto de transformadores, possibilitando inicialmente uma capacidade de 44000 volts, com 1500 hp de potência.[5]
 Cerca de 20 dias antes da inauguração, o Prefeito João Augusto de Andrade mandou instalar autofalantes, a fim de informar e convidar a população para a grande festa que aconteceria. Muitos políticos locais ligados à situação buscaram se apropriar do momento, revelando suas “intensas participações” diante dessa conquista. Em 25 de maio de 1949, sob grandes festividades e com a presença de vários políticos locais; além do Governador Edmundo de Macedo Soares e Silva, foi ligada a chave que iluminou o centro administrativo e político de Itaboraí, localizado na Praça Marechal Floriano Peixoto.[6]
Em 27 de agosto de 1949, foi a vez do bairro de Venda das Pedras, onde fica localizada a Colônia Tavares de Macedo. Após discursos inflamados do Prefeito João Augusto de Andrade e os Deputados Estaduais Leal Júnior e Saramago Pinheiro, mediante grande festividade patrocinada pela prefeitura e pela Firma José Maria Nanci, comemorou-se o estabelecimento de “luz e força” na localidade. [7]
O fornecimento de energia elétrica foi conquistado após uma série de reclamações por parte da população e constantes articulações políticas. Alguns atores deste processo se mobilizaram para a solução desta questão, que transformou radicalmente o cotidiano do município. Entre esses atores, julgo relevante destacar a participação direta do Dr. Arnaldo Zéo, um dos diretores que esteve à frente da Colônia Tavares de Macedo, que participou ativamente na luta pela instalação da energia elétrica, como noticiado pelo Jornal a “Folha de Itaboraí”:

“No momento em que esta cidade presta especiais homenagens aos homens que se destacaram na luta pela instalação do serviço de luz e força de Itaboraí, a figura simpática do Dr. Arnaldo Zéu não poderia ser esquecida. (...) Tomou parte constante nos planos elaborados e desta forma soube unir seus esforços ao Governo Municipal, para a solução do grave problema, que não era só da Colônia que dirigia, mais sobretudo do município de Itaboraí.”[8]

            Lideranças políticas de agremiações partidárias opostas, como os Deputados Leal Júnior e Ewaldo Saramago Pinheiro também contribuíram para a solução. Entretanto, foi somente através da parceria de Instituições ligadas ao poder público e privado, como: Prefeitura Municipal, Colônia Tavares de Macedo, Agro Mercantil Mani Ltda e a Comissão E. Álcool de Mandioca[9], que a população pode contar com os benefícios gerados pelo fornecimento de energia elétrica.


* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Professor de História.

Fontes e Bibliografia:

[1] Jornal O São Gonçalo, Ano IX, nº 452, 16 de julho de 1939. 
[2] Leis nº3 de 18 de abril e nº9 de 9 de outubro de 1940, Annaes da Câmara Municipal de Itaboraí. 
[3] Jornal O São Gonçalo, Ano X, nº 480, 28 de janeiro de 1940. 
[4] Coleção de leis da Câmara dos Deputados. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-21935-9-outubro-1946-341833-publicacaooriginal-1-pe.html. (Acessado em 20/01/2015) 
[5] Jornal Folha de Itaboraí, Ano I, nº2, 30/12/1948; 
[6] O São Gonçalo, Ano XIX, nº969, 22/05/1949; Annaes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro de 1937, Niteroi: Officinas graphicas  do "Diário Official".1937. pp.125. 
[7] Jornal Folha de Itaboraí, Ano II, nº62, 01/09/1949. 
[8]Idem, Ano II, nº49, 04/06/1949. 
[9] Maiores informações verificar o texto: "A Usina de Álcool de Mandioca em Porto das Caixas, Itaboraí".http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/2014/09/a-usina-de-alcool-de-mandioca-em-porto.html

domingo, 4 de janeiro de 2015

Capela Santo Antônio da antiga “Colônia Tavares de Macedo” (1942): O silenciamento de um patrimônio

* Luiz Maurício de Abreu Arruda

Fonte: Souza-Araújo e Acervo Pessoal [1]

A Colônia de Iguá foi inaugurada oficialmente em 20 de agosto 1938, após acalorados debates políticos, que atingiram inclusive a Assembleia Federal. O movimento de resistência, que contou com a participação de grande parte da elite itaboraiense, não se conformava com a instalação de uma “cidade de leprosos” na região. Entretanto, apesar de toda a articulação política, o movimento acabou por sair derrotado. 

Agora, será que esse movimento de resistência teria deixado de alguma forma, marcas presentes até os diais atuais? Por que a capela registrada nas imagens acima, não aparece na historiografia e documentos oficiais produzidos pelas Instituições Municipais? [2]

O movimento para construção do primeiro templo Católico da Colônia de Iguá [3] ocorreu em 1939, através de grande mobilização a nível estadual pela Sociedade Petropolitana de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra. O primeiro passo foi a organização de um evento beneficente, para iniciar a campanha, que em seguida estimularia outras semelhantes a esta. Através do patrocínio de Darcy Vargas e Alice do Amaral Peixoto,teve início oficialmente a campanha através de um grandioso baile em 24 de março de 1939, ocorrido no Tennis Club de Petrópolis. [4]

A pedra fundamental foi lançada em 14 de julho de 1940, sob as bênçãos do Bispo Diocesano do Rio de Janeiro, Dom José Pereira Alves; além de representantes do poder público e federal; Dr. Lauro Mota, Diretor da Colônia Tavares de Macedo; a madrinha da Capela, Alice do Amaral Peixoto; além de políticos locais, onde discursou Januario Cáffaro representando a população de Itaboraí. [5]

A Capela apresenta belos traços arquitetônicos, que estão sendo preservados perfeitamente até os dias atuais, como evidenciados pelas fotografias. Em dezembro de 1942, ocorreu sua inauguração, tendo a presença de Eunice Weaver, presidente das Federações de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra; o Drs. Ruy Albuquerque, Diretor de Educação e Saúde do Estado do RJ; e Marcio Franco Alves, Prefeito de Petrópolis, além de elevado número de pessoas dos quadros políticos de Itaboraí. [6]

A intenção não é elevar a Capela Santo Antônio a um patrimônio cultural [7] do município em detrimento de outros, até porque dentro do próprio espaço que compreende a antiga Colônia, também se ergueram templos para o culto e prática de diferentes segmentos religiosos. O patrimônio em questão foi a primeira a ser erguida nesta comunidade e segundo nossa avaliação, deveria ser tombada ou contemplada por uma política pública, por tratar-se de um vestígio privilegiado da história do município e da hanseníase no Brasil.

Mais do que um elemento arquitetônico, a antiga Colônia Tavares de Macedo é um elemento social e como tal, caracteriza uma época e uma sociedade, que teoricamente não deveria ser “silenciada” desta maneira. Trata-se de um importante capítulo da história fluminense, que continua a ser “esquecida” pelo poder estadual e principalmente pelas autoridades locais.  
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* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Professor de História.
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[1] A fotografia da esquerda foi publicada por Souza-Araújo no ano de inauguração da Capela Santo Antônio e a da direita é a mesma Capela nos dias atuais. Fonte: SOUZA-ARAÚJO, Heráclides Cesár de. História da Lepra no Brasil. Período Republicano (1890-1952) - Volume II, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1956. p.211 & Fotografia tirada por Luiz Maurício de Abreu Arruda em 12/08/2014.
[2] Um exemplo desse“silenciamento”, identificamos no Caderno Itadados, publicado em 2006, pela Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação  de Itaboraí. Esse documento público, buscou estabelecer um conjunto de indicadores sobre as diversas áreas sociais do Município, a fim de orientar melhor determinadas políticas públicas. Com 108 páginas, são apresentados aspectos históricos, sociais, culturais e econômicos do município. Contudo, em momento algum, é feito qualquer menção a existência no município da referida Capela e muito menos da Instituição “Colônia de Iguá ou Tavares de Macedo”, hoje HETM. In: Caderno Itadados. Secretaria Municipal de Planejamento e Controle, PMI, 2006. 
[3] Originalmente nomeada de Colônia de Iguá em 1936, sendo renomeada em 1940 para Colônia Tavares de Macedo. 
[4] Jornal Gazeta de Notícias. Ano 64, nº 75, 28 de março de 1939, Rio de Janeiro.
[5]Revista de Combate à Lepra, ano V, março de 1939, Rio de Janeiro. p.189. 
[6] Revista de Combate à Lepra, ano VIII, junho de 1943, Rio de Janeiro. p.110.[7] A noção de “patrimônio cultural” sofreu ampliação, principalmente graças à contribuição decisiva da antropologia, que, na sua perspectiva relativizadora, integra os aportes de grupos e segmentos sociais que se encontravam à margem da história e da cultura dominante.