terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Usina de Álcool de Mandioca em Porto das Caixas, Itaboraí.


* Luiz Maurício de Abreu Arruda 

As imagens acima representam duas realidades dentro de um mesmo projeto que foi malsucedido e abandonado pelo poder público. 

Trata-se da Usina de beneficiamento de mandioca para produção de álcool, que teve suas obras iniciadas no final de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, a partir da desapropriação pela Prefeitura Municipal de Itaboraí de um determinado lote de terras, cedidas por 6 proprietários locais de Porto das Caixas.

Da esquerda para a direita, verificamos o projeto inicial, fotografia retirada em 1949, algum tempo depois da finalização de sua construção. Em seguida, da direita para a esquerda, observamos o que restou da Usina, representada por uma fotografia atual que evidencia a ocupação do espaço e a deterioração das edificações.[1] 

Getúlio Vargas, durante o período do Estado Novo (1937-1945),assinou o Decreto-Lei nº 5031 de 4 de dezembro de 1942, que criou  a Comissão Executiva dos Produtos de Mandioca, com sede na cidade do Rio de Janeiro. Um dos seus principais objetivos era de organizar cooperativas, para o financiamento aos agricultores e industriais da mandioca e administração das fábricas locais e centrais, que entraram em colapso devido ao fechamento do mercado consumidor internacional.[2] 

O cultivo da mandioca recebeu grande atenção por apresentar vantagens em relação à cana-de-açúcar: elevada tolerância à seca, baixo consumo de fertilizantes e poucos problemas com pragas. Além disto,poder contar com a possibilidade de produzir 2,5 vezes mais etanol por unidade de massa do que a cana-de-açúcar. O fato deste produto ser basicamente de cultura familiar e de uso alimentar, o seu desvio para a produção de energia, poderia produzir problemas de abastecimento. Logo, o problema maior não era tecnológico e sim agrícola.[3] 

Quatro cidades do antigo Estado do Rio de Janeiro foram “contempladas”com instalações de usinas:Nova Iguaçu, Itaboraí, São Fidélis e Bom Jesus de Itabapoana.Estavam inseridas dentro de um projeto nacionalista de diversificação de matriz energética, onde além destas, várias outras seriam instaladas por todo o Brasil.[4] 

Os recursos aplicados no Estado do Rio, para instalação das quatro Usinas, chegaram à cifra de 42 milhões de cruzeiros e jamais funcionou um dia sequer, evidenciando o desperdício do recurso público.No caso da Usina de Porto das Caixas, o desperdício foi de 8 milhões de cruzeiros e um sonho que virou pesadelo para muitos lavradores que investiram seus poucos recursos na esperança de dias melhores.
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* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Professor de História.
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Fontes e Bibliografia: 
[1]FIGUEIREDO, Sérgio Ferreira de. O carro a álcool: uma experiência de política pública para a inovação no Brasil. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Políticas de Ciência e Tecnologia – Universidade de Brasília, Brasília: 2005. 
[2] Notícias do Estado do Rio. In: Jornal A Manhã, 02 de novembro de 1943. 
[3] A fotografia da Usina retirada em 1949. In:Jornal Folha de Itaboraí, Ano 2, N.º 79, 29 de dezembro de 1949. A fotografia atual foi retirada em 14/09/2014 por Geovane Pires e gentilmente cedida. 
[4] Criminoso, o abandono em que se encontram varias distilarias de álcool. In: Jornal Folha de Itaboraí, Ano 2, N.º 79, 29 de dezembro de 1949. 
[5] Recuperação de uma riqueza. In: Jornal A Noite, 10 de julho de 1954. e http://leis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=3269.

 


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Inauguração da primeira linha de ônibus: Niterói X Friburgo

* Luiz Maurício de Abreu

Fonte: Jornal “O São Gonçalo” 

A fotografia acima representa a inauguração da primeira linha de ônibus, ligando a capital Niterói à Friburgo, beneficiando além destas, as cidades de São Gonçalo, Itaboraí e Cachoeiras de Japuhyba ( atual Cachoeiras de Macacu). [1] 

O empreendimento da Empresa Viação Icarahy, representou uma importante contribuição na substituição do transporte ferroviário, mudando substancialmente as relações sociais destas populações.

As 08h00 horas do dia 02 de fevereiro de 1939, o três coletivos representados na imagem da esquerda para direita, deixavam o centro de Niterói, com primeira rota para Venda das Pedras, Itaboraí e destino final, Friburgo.  Entre os passageiros, constavam a representação política dos municípios beneficiados.

Por volta de 12h30, os coletivos chegavam ao ponto final, parando em frente ao Hotel Friburguense, aguardados pela população e representantes de várias esferas. A imagem da direita para esquerda registra a recepção “oficial”, com a presença do prefeito de Friburgo Dante Laginestra e esposa, jornalistas, autoridades locais, além de diretores da referida empresa, aguardando a chegada da representação do Governo do Estado e de outros municípios.

Estrategicamente a população foi avisada anteriormente, através do serviço de auto-falantes existentes no centro da cidade de Friburgo, mobilizando assim a recepção popular. Tratando-se de um evento sociopolítico, é valido salientar que o poder local aproveitou o acontecimento para demonstrar seu apoio à situação, visto ser subserviente ao Estado Novo, regime este decretado por Getúlio Vargas em novembro de 1937. 

[1] É importante relembrar que neste período a cidade do Rio de Janeiro por ser capital do país, possuía a condição de território neutro e não fazia parte do Estado do Rio de Janeiro, tendo este sua capital na cidade de Niterói.
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Fontes e Bibliografia: 
“Inauguração da nova linha de omnibus Nictheroy-Friburgo”. In: Jornal O São Gonçalo, 02/02/1939. 

Indicador de Legislação e Administração do Estado do Rio de Janeiro. Niteroi: Diário Oficial, 1944.

FERREIRA, Marieta de Moraes & SARMENTO, Carlos Eduardo. ‘A República brasileira: pactos e rupturas’. In: GOMES, Ângela de Castro; PANDOLFI, Dulce; ALBERTI, Verena (orgs.). A República no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira/ CPDoc, 2002.

SOARES, Edmundo de Macedo. História Política do Estado Rio de Janeiro (1889-1975). Niterói: Imprensa Oficial, 1987.
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* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).