domingo, 28 de junho de 2015

Quando a saúde se tornou pública em Itaboraí: A construção do Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior

* Luiz Maurício de Abreu Arruda 

Jornal Tribuna de Itaboraí
Idealizada por diferentes gerações e motivo de intensas disputas políticas, a construção de um Hospital no município de Itaboraí representou durante longo período uma antiga demanda da população.
Devido à ausência de uma instituição pública de saúde para atendimento da população mais carente, a solução encontrada veio através da parceria da sociedade civil e pública que resultou na fundação da Casa de Caridade São João Batista de Itaborahy, no final da década de 1930, servindo como espaço hospitalar, localizada no centro histórico de Itaboraí, mais precisamente na atual sede da Prefeitura. [1] 
A história do Hospital Leal Júnior inicia-se em 1949, quando foi lançada a pedra fundamental para sua construção, a partir da iniciativa do grupo político liderado pelo Deputado Leal Júnior. A lei municipal que criava o hospital foi iniciativa da vereadora Margarida Andrade Leal (esposa de Leal Júnior), que inclusive era líder da Câmara Municipal, sendo o Prefeito, seu irmão João Augusto de Andrade Leal.
O projeto arquitetônico foi realizado pelo engenheiro Sá Freire, que previa enfermarias, consultórios, farmácia, laboratório, sala de operações, curativos, depósito, câmara frigorífica, necrotério e capela, além de salas que pudessem suprir as necessidades burocráticas. O orçamento inicial foi de 800.000 cruzeiros, porém, o orçamento aprovado pela Prefeitura para o ano de 1950, foi de CZ$1.500.000,00 (cruzeiros), demonstrando assim que a sua construção só seria possível a partir de recursos do Governo do Estado ou Federal.[2]
Na fotografia em anexo, podemos verificar o andamento da construção do hospital em 1954. No cruzamento das ruas registrado na fotografia, verificamos a ausência de calçamento e tratam-se atualmente das ruas Desembargador Ferreira Pinto e a Avenida Vereador Hermínio Moreira. [3]
Sua inauguração demandou uma espera de cerca de oito anos, devido à falta de recursos para finalização da obra e também como resultado principalmente da queda de braço travada entre o poder local e o estadual, visto que 70% do custo de toda obra veio da Secretaria de Saúde do Estado do RJ. Os principais atores envolvidos nesse enfrentamento foram a família Andrade Leal e seu principal membro o próprio Leal Júnior.
A inauguração do “moderno” Hospital Desembargador Leal Júnior foi programada para o dia do aniversário do município, porém, somente em 23 de maio de 1957 ocorreu a solenidade, que contou com a participação de parte da população e de importantes políticos do Estado do Rio de Janeiro, como o governador do Estado, Miguel Couto Filho, e dos deputados Ângelo Bittencourt, Saramago Pinheiro e Leal Júnior. [4]
Com uma área de 10.000 metros quadrados, a edificação abriga hoje o Tribunal Regional Eleitoral de Itaboraí, além de outras seções da Prefeitura. [5] Vale salientar que, a partir de 18 de setembro de 1992, o Hospital Leal Júnior foi transferido para o Bairro Nancilândia.

* Professor de História na rede municipal de Rio Bonito e Mestre  em  História  Política (UERJ). Autor da obra "A nova Jericó Maldita”. Um estudo sobre a Colônia do Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). 
 
Fontes e Bibliografia:
  
[1] Trata-se de um patrimônio histórico que remonta finais do século XVIII. Consta ter sido reformada entre 1832 e 1834 por Joaquim José Rodrigues Torres, futuro Visconde de Itaboraí, para servir-lhe como uma de suas moradias. Daí a designação: Palacete Visconde de Itaborahy. In: REZNIK, Luís (org.). Patrimônio cultural no leste fluminense: história e memória de Itaboraí Rio Bonito Cachoeiras de Macacu Guapimirim Tanguá – Rio de Janeiro: EdUERJ; PETROBRAS, 2013. pp.91-93 e Jornal O Itaborahyense, 10 de junho de 1946, ano 51, nº 4732,
[2] Jornal Tribuna de Itaboraí, 16 de dezembro de 1954, ano I, Nº16 e Jornal O Itaborahyense, 15 de agosto de 1954, ano 60, nº 1789 e Jornal Folha de Itaboraí, 1 de dezembro de 1949,  ano 2, Nº 75.
[3] Jornal Tribuna de Itaboraí, 8 de Maio de 1957, Ano IV, nº 94.
[4] Jornal O Fluminense, 23 de maio de 1957, ano 79, nº 22.789.
[5] Idem e Jornal Folha de Itaboraí, 1 de dezembro de 1949,  ano 2, Nº 75.