* Luiz
Maurício de Abreu Arruda
Fonte: Câmara Legislativa Municipal |
A
imagem representa a placa comemorativa da inauguração do serviço de “luz e
força” (energia elétrica) em Itaboraí, localizada na Câmara Legislativa Municipal.
O
município de Itaboraí só pôde contar com fornecimento de “luz e força” em 1949.
Antes desse período, a cidade possuía apenas uma pequena usina que supria
precariamente o serviço de iluminação pública. Apesar das queixas, a Prefeitura
se eximia, alegando que o investimento para solucionar a questão era muito alto
e extrapolava os limites arrecadados pelas rendas municipais. Eram frequentes
as quedas de energia, como o episódio ocorrido em 1939, quando a usina elétrica
entrou em colapso, ficando desativada por vários meses.[1]
Não
obstante os esforços da administração municipal, que em 18 de abril de 1940, abriu
um crédito municipal de 50:000$000 (cinquenta contos de réis), destinado à
compra de novo maquinário para reforma do serviço de iluminação pública do
Centro da Cidade, continuava-se a manter uma estrutura precária que atendia uma
pequena parcela da população do município.[2]
O
prefeito buscava resolver o impasse, marcando audiências com o Interventor
Federal Ernani do Amaral Peixoto, a fim de resolver o problema, pois a carência
de energia elétrica era considerada um dos entraves para o “progresso” do
município. Em uma dessas reuniões ocorridas em janeiro de 1940, o Prefeito de
Itaboraí, Vicente Pereira da Fonseca, esteve no Palácio do Ingá para pedir a
solução da questão, quando recebeu a promessa de que seu pedido seria atendido.
Entretanto, apesar da euforia local, em nada resultou esse alarde, pois até o
fim do período do Estado Novo em 1945, enquanto Amaral Peixoto esteve à frente
da Interventoria do Estado do Rio de Janeiro, o fornecimento de energia
elétrica para o município não havia sido resolvido. [3]
O
imbróglio só foi solucionado a partir do decreto lei nº 21.935 de 12 de outubro de 1946, assinado pelo Presidente da
República, Eurico Gaspar Dutra, que autorizava “(...) estender energia elétrica
ao Leprosário de Iguá e à cidade de Itaboraí”. [4]
Somente
depois de três anos deste decreto, Itaboraí pode contar com uma infraestrutura
elétrica a partir da construção de uma subestação de energia no 3º Distrito de
Itambi, que recebeu os cabos da Cia Brasileira Energia Elétrica, alimentando em
seguida as principais localidades do município. A subestação contava com um
conjunto de transformadores, possibilitando inicialmente uma capacidade de 44000
volts, com 1500 hp de potência.[5]
Cerca de 20 dias antes da inauguração, o
Prefeito João Augusto de Andrade mandou instalar autofalantes, a fim de
informar e convidar a população para a grande festa que aconteceria. Muitos
políticos locais ligados à situação buscaram se apropriar do momento, revelando
suas “intensas participações” diante dessa conquista. Em 25 de maio de 1949,
sob grandes festividades e com a presença de vários políticos locais; além do
Governador Edmundo de Macedo Soares e Silva, foi ligada a chave que iluminou o
centro administrativo e político de Itaboraí, localizado na Praça Marechal
Floriano Peixoto.[6]
Em
27 de agosto de 1949, foi a vez do bairro de Venda das Pedras, onde fica
localizada a Colônia Tavares de Macedo. Após discursos inflamados do Prefeito
João Augusto de Andrade e os Deputados Estaduais Leal Júnior e Saramago
Pinheiro, mediante grande festividade patrocinada pela prefeitura e pela Firma
José Maria Nanci, comemorou-se o estabelecimento de “luz e força” na
localidade. [7]
O fornecimento de energia
elétrica foi conquistado após uma série de reclamações por parte da população e
constantes articulações políticas. Alguns atores deste processo se mobilizaram
para a solução desta questão, que transformou radicalmente o cotidiano do
município. Entre esses atores, julgo relevante destacar a participação direta
do Dr. Arnaldo Zéo, um dos diretores que esteve à frente da Colônia Tavares
de Macedo, que participou ativamente na luta pela instalação da energia
elétrica, como noticiado pelo Jornal a “Folha de Itaboraí”:
“No momento em que esta
cidade presta especiais homenagens aos homens que se destacaram na luta pela
instalação do serviço de luz e força de Itaboraí, a figura simpática do Dr.
Arnaldo Zéu não poderia ser esquecida. (...) Tomou parte constante nos planos elaborados
e desta forma soube unir seus esforços ao Governo Municipal, para a solução do
grave problema, que não era só da Colônia que dirigia, mais sobretudo do município de Itaboraí.”[8]
Lideranças políticas de agremiações
partidárias opostas, como os Deputados Leal Júnior e Ewaldo Saramago Pinheiro
também contribuíram para a solução. Entretanto, foi somente através da parceria
de Instituições ligadas ao poder público e privado, como: Prefeitura Municipal,
Colônia Tavares de Macedo, Agro Mercantil Mani Ltda e a Comissão E. Álcool de
Mandioca[9],
que a população pode contar com os benefícios gerados pelo fornecimento de energia
elétrica.
* Luiz Maurício de Abreu Arruda é mestrando em História Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Professor de História.
Fontes e Bibliografia:
[1] Jornal O São Gonçalo, Ano IX, nº 452, 16 de julho de 1939.
[2] Leis nº3 de 18 de abril e nº9 de 9 de outubro de 1940, Annaes da Câmara Municipal de Itaboraí.
[3] Jornal O São Gonçalo, Ano X, nº 480, 28 de janeiro de 1940.
[4] Coleção de leis da Câmara dos Deputados. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-21935-9-outubro-1946-341833-publicacaooriginal-1-pe.html. (Acessado em 20/01/2015)
[5] Jornal Folha de Itaboraí, Ano I, nº2, 30/12/1948;
[6] O São Gonçalo, Ano XIX, nº969, 22/05/1949; Annaes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro de 1937, Niteroi: Officinas graphicas do "Diário Official".1937. pp.125.
[7] Jornal Folha de Itaboraí, Ano II, nº62, 01/09/1949.
[8]Idem, Ano II, nº49, 04/06/1949.
[9] Maiores informações verificar o texto: "A Usina de Álcool de Mandioca em Porto das Caixas, Itaboraí".http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/2014/09/a-usina-de-alcool-de-mandioca-em-porto.html